Ensino e Práticas de Leitura os Manuais Escolares nos Fundos Documentais do Ministério da Educação APRESENTAÇÃO Esta Exposição apresenta manuais de leitura que se encontram nos fundos bibliográficos do Ministério da Educação, através de um percurso pelas suas capas e por algumas das páginas mais significativas, ilustrando deste modo a evolução que registaram ao longo dos últimos séculos, até ao início dos anos setenta do séc. XX. A evolução do sistema educativo consagrou o manual escolar como um instrumento central do processo de ensino e aprendizagem de gerações sucessivas de crianças e jovens, em Portugal como noutros países, que conheceram percursos semelhantes quanto à escola e aos objectos que marcaram as actividades realizadas na sala de aula. O manual é um objecto de cultura, que reflecte as ideias dominantes na sociedade que o produziu, relativamente à educação em geral e ao ensino da leitura, em particular, pela função primordial que o domínio das competências de ler representa para o desenvolvimento de todas as outras aprendizagens. O manual escolar espelha também as orientações culturais, as permanências e as mudanças que ocorreram no meio social, principalmente no que se refere aos modelos pedagógicos dominantes e às políticas educativas que foram implementadas por cada regime. Na sua relação estreita com o tecido social, o manual escolar expressa ainda a mentalidade, os valores e as sensibilidades da sociedade que o utiliza e reutiliza. Neste sentido, as biografias dos autores de manuais de leitura, que integram a Exposição, permitem contextualizar a sua produção e compreender o lugar destes pedagogos no seu tempo e nos debates, temas e problemas que atravessavam o campo educacional. Inicialmente propriedade da escola ou do mestre das primeiras letras, os livros passaram a ter um carácter pessoal e cada aluno devia ter o seu próprio manual para poder realizar as actividades que se desenvolviam simultaneamente nas aulas. No tempo longo em que se inscreve o ensino da leitura, as cartilhas e os catecismos deram lugar aos livros de leitura – Portugal participou deste processo e muitos dos manuais editados no nosso país fazem parte desta exposição. Na sua vinculação às ideias dominantes do tempo em que cada um foi produzido, podemos encontrar nos manuais da segunda metade do século XIX a preocupação com os métodos mais adequados para ensinar a ler, que alimentaram polémicas pedagógicas entre os defensores de cada um deles. Significativamente, os livros deste período e do início do século XX revelam a crença nas potencialidades da escola como factor de civilização, progresso e desenvolvimento; mas também se apresentam como instrumentos de um projecto fortemente moralizante e que tem as suas bases nos princípios morais e religiosos do catolicismo. Os manuais que foram publicados durante o regime republicano, apesar de apresentarem continuidades em alguns aspectos, também exprimem a preocupação com a formação cívica de novos cidadãos. Os manuais apresentados nesta Exposição situam-se, em maior número, no período do Estado Novo, que é, contudo, marcado pelo “livro único”, decretado para os três primeiros anos (obrigatórios) de escolaridade. Estes livros formaram gerações de portugueses e são um exemplo da utilização dos manuais pelo poder político para a transmissão dos valores e da ideologia do regime, como enquadramento do ensino das primeiras letras e da formação da personalidade. O final dos anos sessenta/ início dos anos setenta do séc. XX, assistiu a uma abertura do regime e a um novo ciclo no campo educativo. A evolução tecnológica é patenteada nos manuais aqui apresentados, pois as inovações gráficas melhoraram as edições (ilustrações, dimensões, estrutura gráfica, encadernações) e a difusão destes livros alargou-se com o aumento das tiragens e a diminuição dos custos de produção. O aspecto formal e estético evoluiu significativamente, tornando os livros mais atractivos para as crianças, num processo em que o manual escolar se tornou um produto editorial específico, destinado a um mercado bem definido. |