O Percurso | Cronologia | A aluna na escola | A carreira Universitária | A Pedagoga e Professora | A patrona
|
«Foi como professora do Ensino Liceal – cargo que viria a acumular com a docência Universitária entre 1921 e 1942 - que Seomara da Costa Primo desenvolveu intensa actividade no campo científico, pedagógico e associativo. Tendo frequentado o Curso do Magistério Liceal, diplomou-se pela Escola Normal Superior e concluiu o Exame de Estado no ano de 1922. Leccionou no antigo Liceu Almeida Garret e no seu sucessor, Maria Amália Vaz de Carvalho, tendo deixado nas suas alunas uma forte impressão abonatória, que ainda hoje é vivamente recordada. Foi autora de diversos compêndios para o ensino liceal, de Botânica, de Biologia e de Zoologia, profusamente ilustrados com aguarelas e carvões executados por si, que acompanharam gerações de alunos do ensino liceal, entre os anos trinta e setenta [do séc. XX]. O seu gosto pelo desenho e pela pintura permite encontrar no seu espólio cerca de duas centenas de aguarelas, representando plantas e animais.[...] Foi pela mão de Seomara da Costa Primo que o cinema educativo se estreou no Liceu Maria Amália, no dia 24 de Junho de 1929, com o filme Chang, de que o suplemento de O Século (“Cinéfilo”) faz eco, ao publicar um extenso artigo da sua autoria - “Chang - Uma lição no Liceu Maria Amália Vaz de Carvalho” - onde, para além de uma história breve do cinema, são salientadas as vantagens do cinema educativo como forma de aproximar os alunos da realidade. É também num outro suplemento de O Século, “Modas e Bordados”, dirigido por Maria Lamas, que se faz eco do interesse que Seomara revelava relativamente à Cruz Vermelha da mocidade. Aí dá a conhecer os objectivos e as realizações em prol da paz, de que a referida instituição internacional era estandarte, salientando que tinha estado presente numa exposição didáctica realizada em 1929, em Genebra, onde pudera observar os trabalhos de crianças de 41 países, propondo-se ser impulsionadora da adesão de Portugal a tal instituição. Quanto ao papel dos diversos graus de ensino, Seomara refere: “O plano de ensino […] compreenderá - além do ensino infantil que acho indispensável numa terra em que o amor de muitas mães não compensa os efeitos da ignorância nem da miséria - o ensino primário que dará a cultura geral (física, moral e intelectual) indispensável a todos os cidadãos, e base de um ensino profissional; o ensino superior - destinado aos que se preparam para uma posição que exige uma cultura científica intensa - e o ensino secundário, que dará uma cultura geral, a preparação necessária aos estudos superiores, ficando aqueles que não seguirem aqueles cursos com uma preparação geral que servirá a todas as profissões, isto é, sem carácter profissional; o ensino secundário pretende desenvolver o espírito, os sentidos, o carácter, a mentalidade e o físico, adaptando-os à vida”. Seomara também se pronuncia relativamente à necessidade de adopção de novos métodos de ensino - o que aliás, o discurso curricular oficial irá propor, sem no entanto realizar - e tomando uma posição crítica relativamente aos programas do ensino liceal: “transformação dos métodos de ensino em métodos activos, que tendem a favorecer a actividade pessoal da criança, procurando rodeá-la das mesmas condições que encontrará na vida, levando-a a resolver problemas em que é colocada, dentro das suas forças e da sua mentalidade, o que é certo é que também nos nossos programas muito pouco se cuida dos problemas da vida” Também a especificidade feminina foi objecto de referência, no que concerne ao papel da mulher na sociedade e à educação das raparigas: “Quanto mais esclarecida […] for [a mulher], tanto mais elevará a sua missão de mãe. A cultura nunca fará mal às raparigas. Poderá resultar melhor até, porque é a mulher, de facto quem exerce mais influência no espírito dos filhos. Fomentar, pois, a sua cultura, elevar a sua mentalidade, é pedra-de-toque de um país verdadeiramente civilizado”.»(*) (*) CARVALHO, Guida. – Seomara da Costa Primo in: Dicionário de Educadores Portugueses. António Nóvoa [dir.]1ªedição, Porto:Asa (1998). p.1120-1123, ISBN: 972-41-3611-6 |