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“Conheci Seomara da Costa Primo nos últimos anos do curso liceal, no fim dos anos 30. Os quase cinquenta anos que me separam dessa data não fizeram apagar a memória da professora de excepção que as alunas da minha geração tiveram o privilégio de conhecer. Se não posso dizer que da sua influência nasceu em mim o gosto pelas ciências que me levaram à obtenção de uma licenciatura em Medicina posso, sim, afirmar que Seomara da Costa Primo reforçou essa tendência. Sobretudo, fiquei a dever-lhe o exemplo inesquecível de alguém com o gosto pelo saber teórico e prático e com a atitude perante o ensino que a caracterizaram como uma profissional ímpar e que, sem dúvida, marcou profundamente as suas alunas, tanto no liceu como na Faculdade de Ciências. Relembrar Seomara da Costa Primo, a quem me ligaram laços de profundo respeito e amizade, é prestar-lhe a ainda que muito simples homenagem a que fez jus pelas suas elevadas qualidades profissionais e humanas.” Dr.ª Laura Ayres 1986 “Deslocava-se habitualmente junto de cada aluno que, em pé, no seu estirador passava as aulas de Desenho Biológico, no 1º andar da Faculdade de Ciências de Lisboa, R. da Escola Politécnica, tentando por vezes com dificuldade, fazer ressaltar um pormenor da folha ou da flor de uma Angiospérmica ou dar expressão ao bico do mais simples dos pássaros. Quando necessário, a Prof. Seomara pegava no lápis e, como boa desenhadora Biológica que era, rapidamente corrigia a perspectiva ou exprimia o rigor da nervação ou recorte da folha desenhada. Sucedi à Prof. Seomara na responsabilidade da disciplina de Desenho Biológico, no ano lectivo de 1963- 1964.” Professora Doutora Maria Salomé Soares Pais Telles Antunes 1986 “A sua aptidão pedagógica - aquela que não se ensina, mas que é um dom da natureza - fizera dela quase um mito entre as turmas do 7º ano que tinha a seu cargo. Ela sabia, como ninguém, aflorar um tema e deixar que a aluna reflectisse sobre ele; e, consoante a sua aptidão ou interesses, fizesse perguntas e procurasse aprofundar o assunto. Era assim durante as aulas teórico-práticas, em que a matéria do dia era abordada de uma forma sintética. Depois, o resto do tempo passava-se em diálogo, método este que despertava um muito maior interesse entre as alunas. E durante as provas escritas, o interrogatório era feito de molde a não se poder copiar o que vinha no compêndio, mas a pensar no que se falara durante as aulas. Chegou mesmo a elaborar provas escritas com perguntas especiais às alunas que tinham esta ou aquela afinidade particular de que ela já se apercebera. Usava, assim, duma maneira subtil e delicada de se aproximar das alunas.” Ex - aluna de Seomara da Costa Primo; disciplina de Biologia Liceu Maria Amália “Éramos trinta a trinta e cinco; o silêncio fazia-se logo a seguir ao instalar próprio. À nossa frente uma frágil figura de mulher, duma simplicidade muito sua, mantendo uma certa e peculiar distância. E quando o “toque” soava era como um acordar desagradado dum sonho maravilhoso e reentrar num mundo de realidades banais.” Dr. Helena Varela Lima 1986 "Fui aluna da Professora Seomara em Ciências físico-químicas e Ciências naturais no 4º, 5º e 6º anos do liceu, portanto, de 1935 a 1938. Gostava muito das aulas dela e ela tinha aqueles livros maravilhosamente bem ilustrados - ela gostava muito de desenhar e pintar. As aulas eram muito práticas: ela levava para as aulas os caules cortados, as cebolas que observávamos ao microscópio e íamos ao laboratório observar o esqueleto humano, os músculos...ainda hoje sei muita coisa de Biologia graças àquela professora que nós tínhamos. Eu gostava mais de Zoologia, mas ela era toda virada para as plantas e todos os seus desenhos eram feitos com um grande pormenor. Era uma professora extraordinariamente pedagoga - tinha uma qualidades pedagógicas extraordinárias e era uma simpatia. Ela foi à nossa viagem de fim do curso do liceu - fomos lá acima ao Lindoso e foi sempre muito atenciosa e amiga, muito simples, uma pessoa muito simples....comigo e com as outras minhas colegas. Eu assisti ao seu doutoramento e... como era mulher foi bastante amachucada....ela não merecia aquele tratamento, mas como não tinha ido lá fora ao estrangeiro, nunca tinha saído daqui para estudar...eu ainda me lembro que depois assisti a outro doutoramento no mesmo dia e a ele (não me recordo do nome) fizeram-lhe exactamente a mesma pergunta e ele deu a mesma resposta e foi elogiadíssimo, o que não aconteceu com ela...O júri era composto por homens, com excepção da Doutora Branca, mas ela não era de Biologia era de Química e fez o Doutoramento ainda no tempo da Madame Curry; era uma boa professora, mas, na minha opinião, não tinha as qualidades pedagógicas da Seomara. […] As aulas como ela dava no liceu eram superiores ainda na Faculdade porque ela trabalhava muito: ela arranjava amostras de plantas, ela fazia os cortes....na altura não havia preparadores nem ajudantes. Era realmente uma pessoa que toda a gente gostava imenso como professora, para além da sua simplicidade e dos seus conhecimentos, que se dedicava e que sabia - a gente sentia que ela sabia, ela vivia aquelas coisas… Foi uma Professora a quem realmente muito fiquei a dever, que me empurrou para as Ciências, que me trazia problemas e exercícios e dizia “estes dois são para a Antera” e depois dava outros problemas diferentes às minhas colegas. A Seomara era fundamentalmente uma pedagoga e uma amante da profissã; ela vivia para os seus alunos, nunca se casou nem nada...tinha uma amizade muito especial pelos seus alunos e era uma Professora “com letra muito grande”. Eng.ª Antera Valeriana de Seabra 2006 (testemunho oral) |