ALVARÁ REAL
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Nem á invencivel força do exemplo dos maiores Homens de todas as Nações civilizadas; nem ao louvavel, e fervoroso zelo dos muitos Varões de eximia erudiçaõ, que (livres das preoccupações, com que os mesmos Religiosos pertendêraõ allucinar os meus Vassalos, distrahindo-os, na sobredita fórma, do progresso das suas applicações, para que, criando-os, e prolongando-os na ignorancia, lhes conservassem huma subordinaçaõ, e dependencia taõ injustas, como perniciosas) clamáraõ altamente nestes Reinos contra o Methodo; contra o máo gosto; e contra a ruina dos Estudos; com as demonstrações dos muitos, e grandes Latinos, e Rhetoricos, que antes do mesmo Methodo haviaõ florecido em Portugal até o tempo, em que foraõ os mesmos Estudos arrancados das mãos de Diogo de Teive, e de outros igualmente sabios, e eruditos Mestres: Desejando Eu naõ só reparar os mesmos Estudos para que naõ acabem de cahir na total ruina, a que estavaõ proximos; mas ainda restituir-lhes aquelle antecedente lustre, que fez os Portuguezes taõ conhecidos na Republica das Letras antes que os ditos Religiosos se intromettessem a ensinallos com os sinistros intentos, e infelices successos, que logo desde os seus principios foraõ previstos, e manifestos pela desapprovaçaõ dos Homens mais doutos, e prudentes nestas uteis Disciplinas, que ornáraõ os Seculos XVI., e XVII., os quaes comprehendêraõ, e predicéraõ logo pelos erros do Methodo a futura, e necessaria ruina de taõ indispensaveis Estudos; como foraõ por exemplo o Corpo da Universidade de Coimbra (que pelo merecimento dos seus Professores se fez sempre digna da Real attençaõ) oppondo-se á entrega do Collegio das Artes, mandada fazer aos ditos Religiosos no anno de mil e quinhentos e cincoenta e cinco; o Congresso das Cortes, que o Senhor Rei Dom Sebastiaõ convocou no anno de mil e quinhentos e sessenta e dous, requerendo já entaõ nelle os Povos contra as acquisições de bens temporaes, e ontra os Estudos dos mesmos |